quarta-feira, 20 de junho de 2012

O seu Deus está morto



Por Paulo Sena (ManoPV)

Algumas semanas atrás, buscando algo de interessante para assistir na TV, me deparei com uma cena que jamais esquecerei. Um pastor cita uma passagem da Bíblia em que Jesus, respondendo a uma pergunta de um jovem, afirma que ricos não entram no reino dos céus. Correto, a citação foi feita sem falhas com total fidelidade. Entretanto, todos sabemos que a Igreja Universal do Reino De Deus é dona de um patrimônio financeiro imenso, desde programas como o citado anteriormente, até construções belíssimas e luxuosas onde seus encontros são realizados. Seus fiéis, muitas vezes creem cegamente no poder do "representante" que palestra naquele palco. Tal fé é algo louvável, até incrível, a ponto de confiar rios de dinheiro naquela instituição.

Se no reino do senhor não há lugar para pessoas muito presas aos seus bens materiais, então pra onde todos aqueles pastores que tantas reportagens já mostraram serem donos de fazendas e outros luxos irão mandar suas riquezas quando estiverem a beira da morte em um hospital particular caríssimo enquanto aqueles que foram tão fiéis a seu Deus e aos ensinamentos da Bíblia morrem na fila de espera de hospitais públicos? Vão doar para a construção de capelas no interior? Eu duvido. Não é de hoje que se aproveitar da fé dos outros é uma forma de enriquecer. Ou será que já esqueceram da Igreja católica do período medieval?

Vivemos na era do preconceito, do etnocentrismo, do conformismo e do consumismo exacerbado. A lei é justa com os que podem sustentá-la, seja com esquemas de corrupção ou subornos, enquanto o pobre cidadão que passa horas trabalhando pesado sendo pago com uma mixaria não tem a menor noção do que são direitos. Por ter uma vida tão difícil e muitas vezes triste, essa pessoa sente necessidade de se apegar a alguma figura religiosa, alguém em quem se apoiar nas horas complicadas. Essa fé motiva-a durante a batalha do cotidiano, trazendo paz interior. Com a grande variedade de opções religiosas que temos atualmente, é impossível não se identificar com alguma. Todas com seus próprios conceitos e características.

A fé sem dúvida é algo lindo, desde que respeitada. Explorar a crença alheia buscando benefício próprio é algo tão horrível quanto um desses crimes que tanto vimos em "jornais" sensacionalistas que se fazem presentes na hora do almoço. Infelizmente, a maioria ainda tem a mentalidade que religião é um tabu, algo intocável.  É preciso abrir os olhos para o que nos cerca, e reagir a esses abusos. E para piorar, o lixo cultural que é socado na nossa cabeça desde a nossa infância é algo que a maioria passa adiante, coisas como a superioridade dos hétero-sexuais ou de uma religião específica. Ao invés de aprendermos a respeitar as crenças alheias, aprendemos que "a nossa é melhor" ou a clássica "as outras são todas ruins". Crescem as injustiças, os índices de pobreza, a alienação, a exploração, mas o senso crítico, nada.

Mas, não é hora para sermos pessimistas. É preciso debater estes assuntos, não apenas religião, mas também política, mídia, etc. Os inúmeros mapas, fatos históricos e cálculos precisam deixar um espaço para diálogos que abordem a nossa realidade nas escolas. Até porque ninguém irá lembrar de metade daquele monte de coisas que nos ensinam desde o Maternal, mas a capacidade de pensar e formular uma tese continua, apesar de desestimulada por aqueles que deveriam estimulá-la (já que gente que não possui senso crítico é mais fácil de enganar). E para os que se ofenderam com o título do texto, não havia outra forma de chamar a atenção para um assunto tão polêmico mas que a maioria ignora.
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3 comentários:

  1. TRUE STORY!!!!!!!!!!! Tem um livro que fala exatamente sobre isso, como a religião manipula e governa o mundo. Chama-se "Deus, Um Delírio" e eu vou ler e depois publico um post sobre ele pra vocês. Esse é um assunto bastante polêmico, mas é importante ser discutido. Afinal temos que mudar esse conceito de "religião é intocável".

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  2. Desigualdade das riquezas

    A desigualdade das riquezas é um dos problemas que inultilmente se procurará resolver, desde que se considere apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que não são igualmente ricos todos oshomens? Não o são por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. É, aliás, ponto matematicamente demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela ,mínima e insuficiente; que, supondo efetuada essa repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente com que viver, o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar da Humanidade; que, admitido desse ela a cada um o necessário, já não haveria o aguilhão que impele os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se exp anda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades.
    Admitido isso, pergunta-se por que Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Ainda aí está a uma prova de sabedoria e da bondade de Deus. Dando-lhe o livre-arbítrio, quis ele que o homem chegasse, por experiência própria, a distinguir o bem do mal e que a prática do primeiro resultasse de seus esforços e da sua vontade. Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os naimais. A riqueza é um maio de o experimentar moralmente. Mas, como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva, pelo que incessantemente a desloca. Cada um tem de possuí-la, para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela. Sendo, no entanto, materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo tempo, e acontecendo, além disso, que, se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, com o que o melhoramento do planeta ficaria comprometido, cada um a possui por sua vez. Assim, um que não na tem hoje, já a teve ou terá noutra existência; outro, que agora a tem, talvez não na tenha amanhã. Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.
    Deploram-se, com razão, o péssimo uso que alguns fazem das suas riquezas, as ignóbeis paixões que a cobiça provoca, e pergunta-se: Deus será justo, dando-as a tais criaturas? E exato que, se o homem só tivesse uma única existência, nada justificaria semelhante repartição dos bens da Terra; se, entretanto, não tivermos em vista apenas a vida atual e, ao contrário, considerarmos o conjunto das existências, veremos que tudo se equilibra com justiça. Carece, pois, o pobre de motivo assim para acusar a Providência, como para invejar os ricos e esses para se glorificarem do que possuem. Se abusam, não será com decretos ou lei suntuárias que se remediará o mal. As leis podem, de momento, mudar o exterior, mas não logram mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade. (ALLAN KARDEC)

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